A tendinopatia glútea, erroneamente popularizada como bursite do quadril, é uma condição muito frequente e incapacitante. Por muitos anos, o manejo da dor lateral do quadril foi guiado por conhecimentos adquiridos na prática clínica. Porém, na última década, as pesquisas avançaram fortemente, permitindo a prática baseada em evidências no diagnóstico e tratamento da dor lateral de quadril de origem em tecidos moles, principalmente a tendinopatia glútea.
Com o objetivo de educar nossos pacientes, elaboramos este material baseado nos artigos de uma das maiores pesquisadoras na área de reabilitação do quadril, Alison Grimaldi.
Realidade: A principal patologia associada à dor lateral do quadril é a tendinopatia do glúteo médio e mínimo. Estudos mostram que a distensão da bursa pode coexistir com a patologia do tendão em alguns casos (20-30%), mas raramente ocorre isoladamente (2-8%). O tratamento deve focar em educação e exercícios terapêuticos, e não em medicamentos anti-inflamatórios e repouso.
Realidade: Embora a prevalência seja maior em mulheres na pós-menopausa, também pode ocorrer em homens, mulheres mais jovens (especialmente no período pós-parto), pessoas com osteoartrite e após a colocação de prótese no quadril.
Realidade: A palpação é útil para descartar a tendinopatia glútea se não houver dor, mas não é adequada por si só para confirmar o diagnóstico, pois muitos indivíduos assintomáticos podem ter sensibilidade. A precisão do diagnóstico melhora significativamente quando a palpação positiva (sensibilidade no trocânter maior) é combinada com dor na abdução do quadril resistida ou no teste de apoio unipodal por 30 segundos.
Realidade: Achados de imagem não são bons preditores de sintomas, pois alterações tendíneas e da bursa são comuns mesmo em pessoas sem dor. Assim, os achados de imagem devem sempre ser combinados com o exame clínico para determinar o diagnóstico.
Realidade: A ideia de que “melhora sozinha” não se sustenta. Muitos pacientes apresentam sintomas persistentes por anos, e pode haver relação com desenvolvimento de osteoartrite. A intervenção precoce pode reduzir a chance da condição se tornar crônica.
Realidade: Não há evidências de que o encurtamento do trato iliotibial cause tendinopatia. Ao contrário, alongar pode até piorar os sintomas, já que aumenta a compressão tendínea. Mesmo na presença de amplitude de movimento reduzida em adução de quadril, o alongamento para tendinopatia pode ser prejudicial.
Realidade: O tratamento com educação e exercícios demonstrou ser superior no curto e longo prazo. Além disso, as injeções podem prejudicar a saúde do tendão, apesar do alívio da dor no curto prazo.
Realidade: Promove cargas compressivas nos tendões, o que pode provocar dor. Exercícios em pé como o agachamento unilateral ou levantamento terra, são opções melhores e se aproximam muito mais da função dos músculos glúteo médio e mínimo.
Realidade: A maioria das rupturas não necessitam intervenção cirúrgica, tendo bons resultados através do tratamento conservador. A cirurgia é indicada apenas em casos de avulsão, fraqueza persistente, marcha de Trendelenburg e dor/disfunção com duração superior a 3 meses de tratamento conservador.
A educação e exercícios terapêuticos orientados por um fisioterapeuta capacitado, demonstraram ser a primeira linha de tratamento para a tendinopatia glútea, inclusive sendo superior à injeção de corticosteroides.
Com o avanço das pesquisas na área da fisioterapia, é hora de os profissionais de saúde deixarem de lado os mitos e se envolverem com as evidências de diagnóstico e tratamento da tendinopatia glútea.
Se você sofre com tendinopatia glútea ou bursite do quadril, agende uma avaliação com a gente. Realizamos atendimento fisioterapêutico em nosso consultório e à domicílio.
Fonte: GRIMALDI A., et al. Gluteal tendinopathy masterclass: Refuting the myths and engaging with the evidence. Musculoskelet Sci Pract. 2025 Apr:76:103253.